Amigos lançam em novembro serviço de assinatura on-line para HQs
Luiza Gould, em O Globo
RIO — Tudo começou com “Novo mundo”. A ideia da dupla de amigos
cearenses era lançar uma HQ contando as aventuras de portugueses que, ao
chegarem ao Brasil no século XVI, encontram criaturas pré-históricas. O
roteiro ainda não saiu da imaginação, mas serviu como gatilho para
Ramon Cavalcante e George Pedrosa criarem o Cosmic, um serviço de
streaming de quadrinhos. Com lançamento previsto para novembro, o
projeto tenta fazer algo parecido com o que realiza a Netflix no campo
de filmes e séries e o Spotify na música.
Com uma proposta ambiciosa, a dupla pretende sanar uma dificuldade da área.
— O mercado impresso de quadrinhos no Brasil não dá conta do volume
de público, que quer consumir uma grande quantidade de obras sem pagar
um valor absurdo. É uma leitura rápida, por isso é difícil cobrar caro e
aí está o problema, já que os custos de publicação são altos. A
distribuição pode representar 30% do valor da revista, o mesmo com
postos de venda e ainda tem a impressão, que vai de 12 a 20% do preço —
explica Ramon Cavalcante, de 30 anos, por telefone, de Fortaleza.
Desenvolvida para computador, tablet e celular, a plataforma
funcionará da seguinte forma: o usuário pagará R$ 15,90 mensalmente para
ter acesso a um banco de histórias em quadrinhos. Deste valor, 30%
serão destinados à manutenção do serviço. Os outros 70% irão para os
autores, de forma proporcional às páginas acessadas.
— Para exemplificar, se 75% das páginas lidas por um usuários são de
quadrinhos do autor A e 25% são do B, eles ficarão com essas mesmas
porcentagens de royalties do usuário. O A ganharia R$ 8,35 e o B R$ 2,78
(totalizando os R$ 11,13 correspondentes ao 70% do valor da assinatura)
— diz George Pedrosa, de 26 anos.
A dupla conta que a criação desse modelo de assinaturas individuais
levou em consideração críticas a outras plataformas, como o Spotify, no
qual um percentual considerável é destinado às gravadoras.
— Com o Cosmic queremos deixar os autores focados na produção. E eles
saberão que material o público gosta mais para, só aí, imprimir — prevê
Pedrosa.
Capa do quadrinho ‘Mayara e Annabelle’ – Reprodução
Já para as editoras a vantagem seria alcançar um público dependente dos downloads ilegais de quadrinhos.
Entre os que abraçaram a ideia estão os autores Mario Cau,
idealizador do quadrinho “Morphine”, Sirlanney Freire, conhecida pelo
pseudônimo Magra de Ruim, além de Pablo Casado e Talles Rodrigues,
criadores da HQ “Mayara e Annabelle”. Marca da Fantasia e Mino estão
entre as editoras.
A expectativa é de que o Cosmic tenha 50 quadrinhos para começar. O
aumento do acervo, dependendo das parcerias, será quinzenal. Os
criadores do serviço acham que conseguir os primeiros assinantes não
será difícil: o streaming será oferecido no Cosmic Reader. Lançado pela
equipe em julho, este aplicativo gratuito para organização de HQs
on-line já foi baixado por quatro mil usuários — serão eles os primeiros
a ter a opção de virar assinantes.
— O grande objetivo é organizar um mercado de forma a ajudar o
público e todos os envolvidos no processo de criação — afirma
Cavalcante.
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